terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Doutor robô, do Jornal da Ciência

O Jornal da Ciência, através do JC e-mail de 12 de janeiro de 2010, esta matéria interessantíssima, que segue:


Eles não sabem diferenciar um fígado de um rim, uma tíbia de um fêmur, mas estão facilitando muito o trabalho de cirurgiões e melhorando a qualidade de vida de pacientes.

Com os robôs e seus "primos", os navegadores, as operações agora são pouco invasivas e mais precisas, especialmente em casos de difícil acesso, como próstata, cabeça e pescoço, ginecologia e implantes em ortopedia. No Brasil, eles ainda são poucos, mas, ainda este ano, pelo menos um deles deve começar no serviço público, no Instituto Nacional de Câncer (Inca).

É no câncer de próstata que os robôs são mais requisitados. Graças à sua ajuda, foi possível aumentar em 50% a chance de se preservar a potência sexual, o pior efeito da retirada do tumor. O risco de incontinência urinária também diminui com a mãozinha de máquinas como o Da Vinci. Isso porque suas pinças e braços fazem movimentos quase impossíveis para cirurgiões.

Nos Estados Unidos, a robótica representou em 2007, 2008 e 2009 cerca de 65%, 80% e 90% desses casos, diz Cassio Andreoni, professor e chefe da disciplina de urologia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e médico do Hospital Israelita Albert Einstein.

- Um estudo comparando 35 casos de cada uma das quatro técnicas de cirurgia de câncer de próstata (perineal, abdominal aberta, laparoscópica e robótica) mostrou que, com o robô, o paciente fica menos tempo sem dieta, internado (média de dois dias) e com sonda. E perde menos sangue: 300ml contra um litro na tradicional - comenta Andreoni, com 70 casos operados.

- Robôs podem ser usados ainda como auxiliares e instrumentadores.

Essas máquinas, que lembram aranhas, facilitam manobras repetitivas e difíceis. O médico controla os delicados movimentos num console com visor, e tem as imagens ampliadas em dez vezes. Assim aciona os quatro braços do robô, um deles com a câmera para imagens 3D, enquanto os outros seguram instrumentos cirúrgicos.

Mas os doutores de aço carecem de inteligência artificial, ou seja, se ocorrerem imprevistos é a equipe humana que resolve:

- Todo o mérito ou culpa é do cirurgião e de sua equipe. Apesar de ser mais confortável operar com o robô, não dá para relaxar. O cirurgião precisa de ótimo controle nas próprias mãos para guiar os braços do robô. E usar os pés para certos movimentos. É um maestro numa orquestra.

Custo com aparelho aumenta em 50%

A ajuda dos robôs têm sido de grande valia não só na urologia (maioria dos casos). Eles já atuam em cabeça e pescoço, retirada de parte do rim, área cardíaca (válvulas), endometriose, retirada de estômago, de tumores de pâncreas, fígado, pulmão e boca. Em alguns casos, em caráter experimental.

- Há pacientes que desconfiam quando sabem que serão operados com robô. Porém ele não faz nada sozinho, apesar de ser possível usá-lo à distância - diz o médico Sérgio Samir Arap, gerente do centro cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês.

Segundo ele, o resultado é melhor, sem falar no custo benefício:

- Uma cirurgia de cabeça e pescoço, que durava quatro horas, agora pode ser feita em uma hora. Nesse caso, com o robô, o custo aumenta em quase R$ 5 mil, mas o paciente sai em dois dias, não usa placas etc.

Sua recuperação é melhor. Tanto que seguradoras de saúde já se interessam em pagar os procedimentos.

Porém o robô não resolve tudo, e, em alguns casos, atrapalha.

- Se o acesso ao órgão operado é mais fácil sem o robô, é melhor dispensá-lo - diz Arap.

Mesmo assim, o doutor robô chegou para ficar. Esta semana, urologistas da Universidade da Flórida usaram um deles para encurtar em 20 minutos o tempo de reversão de vasectomia.

E os espermatozoides voltaram mais rapidamente. Isso custou R$ 6 mil a mais em relação ao método de rotina. Para alguns médicos é desperdício de dinheiro. Polêmicas à parte, no Brasil, o Inca se prepara para comprar um robô. Se ele for bem, pode até ser contratado, ou melhor, comprado para o SUS
(Antônio Marinho)
(O Globo, 10/1)

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